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COMO A EDUCAÇÃO ESTÁ MAIS DESCENTRALIZADA PARA MUDAR A NOSSA FORMA DE APRENDER


O QUE DEU LIGA:


- O fim da hierarquização do conhecimento;
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A partir do momento que as informações são muito mais acessíveis, todo mundo está apto a conhecer sobre um determinado assunto – muitas vezes, a poucos cliques do mouse;


- Insubordinação positiva – o que separa professor e aluno / mestre e aprendiz quando entendemos que todo mundo é portador de conhecimento?


- A educação vista antes como alternativa (com seus novos métodos de propagação de conhecimento) vai se tornar cada vez mais a tônica dominante nas universidades e também nas escolas.


- Como essa nova educação vai ser posta a prova em um campo de conhecimento ainda tão conservador?



Depois de assistir a algumas apresentações durante a última edição do Wired Festival, em São Paulo, notamos que muitos dos participantes tocaram em um ponto cada vez mais crucial para entendermos o conhecimento: como nosso sistema tradicional de ensino ainda está tão defasado. A questão, aqui, nem é o acesso, um problema ainda maior. É uma questão mais de forma até do que de conteúdo. Como ensinar pode ser muito mais efetivo do que o que ensinar.

Muitos especialistas (alguns deles que subiram no palco do evento) defendem, cada vez mais, um conceito da aprendizagem por meio de projetos, não por disciplinas divididas em diferentes salas de aula. Por ser multidisciplinar e envolver todos os processos da realização, aprender por projeto permite absorver melhor o conceito por se estar aprendendo e fazendo ao mesmo tempo. Os alunos se tornam parte da construção desse conhecimento, ao invés de se portarem de forma passiva perante a ele. É o oposto à maneira tradicional de ensino, onde uma pessoa detém o conhecimento e as demais escutam. 

Em uma das palestras, uma escola inglesa foi citada em um estudo feito com os seus alunos para medir a absorção de conhecimento pelo dito método tradicional: uma mesma prova foi aplicada antes e depois das férias dos estudantes. Resultado: 100% dos alunos foram pior depois das férias, comprovando que o método de ensino atual é muito mais baseado em decoreba, em um conhecimento passivo, do que de fato aprender e absorver. Algo que já está mudando, ainda que de forma mais lenta, devido a alguns fatores de resistência.

Um dos projetos apresentados no simpósio como forma de explicar essa tendência era o proposto por uma escola: os alunos precisavam fazer uma bicicleta. Inteira, do início ao fim. Os alunos se organizam e trabalham sob a liderança do professor. Assim, eles aprendem várias “matérias" ao mesmo tempo – física, matemática, etc. E ainda o fazem juntos, que é a maneira atual de trabalhar, não mais aquela cultura de hierarquia, de passividade. Achamos que é uma analogia interessante dessa nova educação.


A cultura maker e a autonomia

Fazer e aprender ao mesmo tempo está no cerne da cultura maker, que preconiza que a ideia de que para ser inovador, você precisa fazer as coisas, não apenas as relegar às grandes corporações ou ao governo, no caso da educação. Se você não faz mais, a inovação deixa de acontecer. Isso cria uma ideia de protagonismo e uma autonomia que têm se tornado cada vez mais relevantes na nossa sociedade atual.


No caso específico da educação, ela está centralizada em políticas públicas, na importante questão dos direitos humanos (o acesso à educação é, enfim, um direito!), mas ainda está muito nas mãos do estado ou de escolas particulares que seguem modelos tradicionais – para não dizer conservadores.
 
Numa ânsia de poder transformar a educação em um modelo de ensino cada vez mais descentralizado, há especialistas e personagens expoentes criando alternativas de olho na ânsia dos pais e dos próprios estudantes de se educarem frente a um mundo em constante (e rápida) transformação. O sistema de ensino baseado em caixas (disciplinas) fazcada vez menos sentido em uma sociedade que está, cada vez mais, se desencaixotando.
 
Nos últimos anos, pesquisadores tentam compreender como a cultura maker pode melhorar a Educação. Além de estimular a criatividade e a autonomia, as características deste movimento, quando aliadas aos conteúdos e habilidades curriculares, podem transformar a sala de aula.
 
Na era do fazer, conhecimento é (e precisa ser!) algo muito mais ativo. Nesse sentido, várias correntes estão surgindo para reinventar o ensino. É preciso dizer que muitas delas bebem de fontes já estabelecidas e que eram tidas como formas muito “alternativas” de educação, como o método Waldorf e o da Escola da Ponte, surgida em Portugal. Hoje, o alternativo virou mainstream, à medida que as mais intrigantes escolas em funcionamento propõe justamente o alternativo como modelo vigente.



DOIS EXEMPLOS desse tipo de ensino:


1- Criada em NY, a Avenues é uma escola de elite que quer formar “cidadãos globais”. Línguas, matemática pelo método de Cingapura (Um dos mais inovadores do mundo) e a construção de casas na selva com placas fotovoltaicas são alguns dos pontos da grade curricular. Com a abertura de uma filial paulistana, a escola fundada por Alan Greenberg (um dos palestrantes do simpósio) propõe aulas em que os alunos precisam exercitar a empatia, estudar religiões do mundo todo (e não somente as que seguem seus criadores) e se tornarem cidadãos, antes de alunos.

2 - Já a Minerva pretende remodelar o jeito de formar seus alunos: não existem salas de aulas. De seus quartos, a aula acontece na tela de um computador. Os professores não ficam falando por horas: eles incentivam o debate – e o estudante é avaliado pela sua participação neles, não só pelo que argumenta, mas da forma que o faz. Para uma vivência de mundo mais completa, a cada semestre, os estudantes mudam de país. Criada por empresários do Vale do Silício, a faculdade quer formar a vanguarda do conhecimento – que tende a ser mais inclusivo, com menos hierarquia, mais cocriação e colaboração. Menos rigidez, mais multidisciplinaridade.


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NOSSA LINHA DE RACIOCÍNIO

- O movimento maker nos colocou como protagonistas das nossas ações na sociedade, seja pras coisas que compramos (e que podemos, ao invés, fazer nós mesmos!) à como aprendemos: por que aceitar que o ensino seja hierárquico, centralizado e tradicional quando os valores mudaram tanto na sociedade? 
 
- O papel ativo de quem aprende – ele também pode ensinar. Ao fazer parte da experiência e desenvolver pensamento crítico, os questionamentos podem auxiliar na transmissão de conhecimento, moldando-o para uma lado ou para outro. O conhecimento como algo vivo, em transformação.
 
- Muitos métodos de ensino, tidos como mais alternativos, já pregavam essas mudanças, mas agora eles se mostraram ainda mais relevantes para o modelo vigente de educação. Hoje, pesquisadores, pedagogos e até pensadores reciclaram esses modelos, adaptando-os a uma realidade ainda mais moderna e tecnológica, e estão buscando transformar o ensino. 
 
- Você não precisa ter talento, você precisa acreditar em você: a ideia de que somos capazes pressupõe o autodidatismo, a partir do ponto que encoraja as pessoas a fazerem e aprenderem como fazer melhor durante o percurso.
 
- Esse descontentamento com a educação mais conservadora e defasada levou a alguns movimentos ainda mais radicais, como a DESESCOLARIZAÇÃO, que prega que as experiências do cotidiano, e não a vida escolar, podem ensinar muito mais. Dessa forma, os pais simplesmente desistem da escola e preferem eles mesmos tomarem conta da educação de seus filhos: a descentralização e a cultura maker levados ao extremo.
 
- Tudo isso porque, enquanto tanta coisa mudou, o método de ensino mudou muito pouco – até por ser uma área em que as mudanças são mesmo mais gradativas. Como consequência, os alunos geralmente se sentem desestimulados, pois vivem em uma velocidade e a escola está em outra.

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NOSSA “MORAL DA HISTÓRIA”



Já vemos uma mudança muito significativa em alguns modelos de ensino. As escolas e faculdades privadas são as que mais rápido conseguem fazer essas atualizações, já que não estão ligadas a políticas públicas e modelos de direitos humanos. As iniciativas mais transformadoras estão ligadas a áreas de inovação (como o Vale do Silício, por exemplo) ou a países com políticas mais progressistas (como os nórdicos). A educação, como outros movimentos, insurge em focos para ir se alastrando aos poucos, embora seja uma área em que inovações são mais difíceis pelas resistências que existem.
 
De uma maneira geral, é importante que novas ações repensem em como educar melhor as pessoas no futuro, uma vez que muitas das atividades que ainda seguimos, baseadas em condutas muito ultrapassadas, já não apresentam tanta eficácia no ensino. Aprender melhor é uma forma de se aprender mais, e quanto mais se aprende, mais conexões e senso crítico são criados para colocar o aprendizado em constante transformação.
 
A questão é entender também como a transmissão de valores (culturais, éticos, etc.) pode ser feita a partir desses novos modelos descentralizados: sem a hierarquia, como eles podem ser passados e se tornarem arraigados? A ligação entre “não preciso de ninguém para me ensinar” à uma ideia de humildade de que não sabemos nada pode pautar um dilema ético importante e decisivo para esses novos modelos.
 
Uma coisa é fato: a educação precisa mirar os novos tempos, tentar encontrar melhores maneiras de transmitir conhecimento. De uma forma mais abrangente, essas questões precisam ser discutidas por todas as esferas (governo, acadêmicos, pais, alunos...), e não ser restrita a escolas de elite que formam apenas os que podem pagar por elas. Como um bem e um direito irrestrito, a melhor educação precisa ser para todos. Menos hierárquica, mais democrática, mais colaborativa, sim. Mas também mais acessível.

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DEU LIGA! é uma newsletter de tendências, reflexões e insights da equipe da LIGA PESQUISA, um estúdio de pesquisas qualitativas que realiza estudos para marcas de diversos segmentos.
 Como buscamos realizar nossas pesquisas com profundidade e relevância, não temos uma periodicidade determinada. A próxima newsletter só vai sair quando a gente tiver digerido e discutido muito o próximo assunto – que, aliás, já começamos a debater.
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